domingo, 3 de março de 2013

Yoani Sánchez e a liberdade


A jornalista cubana Yoani Sánchez esteve no Brasil na semana passada. Embora ela fosse conhecida em alguns meios políticos e jornalísticos era praticamente desconhecida de grande parte dos brasileiros.
Essa situação não iria mudar muito não fossem duas circunstâncias que chamaram a atenção da mídia: a ação de pequenos grupos de esquerda que com seus métodos fascistas tentaram impedi-la de falar e a suspeita de que houve orquestração entre um alto funcionário do núcleo do governo com a Embaixada cubana para tentar denegrir a sua imagem.

Essa duas circunstâncias trouxeram para um público muito maior a existência de uma blogueira dissidente cubana e suas lutas por liberdade e direitos humanos em seu país.

Na minha avaliação, como membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a passagem de Yoani pelo Brasil serviria para conhecermos um pouco mais do “outro lado” de Cuba. Porém, quando vi uma foto de sua chegada em Recife mostrando o contraste entre a sua serenidade e a agressividade dos fascistas contra ela, percebi que sua visita tinha um significado muito maior: a liberdade.

Independentemente de posições políticas e ideológicas, a valorização da liberdade como um fim em si mesmo deve ser defendida intransigentemente. Para quem passou por restrições à liberdade de expressão durante o período autoritário pós-64, essa valorização tem uma importância ainda maior. Lembro-me da tensão que vivi como líder estudantil durante esse período. Imaginei, então, o que deve sentir Yoani Sánchez num regime totalitário e me senti no dever de apoiar sua luta. A partir de então acompanhei pela imprensa a sua passagem por Feira de Santana e Salvador onde novamente ela foi hostilizada, em grau crescente.

Durante sua passagem pela Câmara dos Deputados pude verificar pessoalmente tanto a agressividade desses grupelhos contra ela quanto a sua serenidade e segurança para enfrentar essa situação. Sua postura parecia dizer que enfrentar essas manifestações é “fichinha” para quem tem de viver num estado totalitário. A agressividade dos manifestantes contra ela me deu a impressão que era motivada por dois propósitos.

O primeiro era o de demarcar terreno. Era o de dizer a Yoani que “aqui no Brasil nós somos Cuba! Você vai se sentir aqui como se estivesse em seu país. Aqui nós estamos com Fidel! É melhor você ir para outro país porque aqui mandamos nós”.

O segundo propósito tem uma natureza mais psicológica. Era o de dizer para si mesmo que “a Yoani está errada! Se por acaso ela estiver certa, “the dream is over”, minhas crenças e meu passado estão errados! Eu preciso acreditar que ela está errada! É lógico que ela está a serviço da CIA e dos imperialistas!”

O propósito da agressividade era o de impedi-la falar para não ouvir, para não cair na tentação de cogitar que talvez Cuba possa ter os defeitos que ela denuncia. Por isso, é melhor nem ouvir. E o jeito mais fácil de fazer isso é não deixá-la falar.

Não se trata aqui de ser contra ou a favor do regime cubano. Se esse regime deve ser mantido ou não, isso é um problema do povo cubano. Porém, quando tenta se impedir que qualquer pessoa se manifeste livremente em solo brasileiro, isso é um problema nosso. Por isso, foi importante a sua passagem pela Câmara, tanto para mostrar o filme, quanto para falar livremente. Ali, os fascistas não a impediram de se expressar e os deputados e vários estudantes mostraram a ela que aqui “não está tudo dominado” e que a ideia de liberdade é um valor muito forte no Brasil.
Ela saiu da Câmara ouvindo um coro de “liberdade”, muito maior que os slogans pró-Castro.
Com relação à participação de um funcionário que, segundo a Revista Veja esteve na Embaixada Cubana para receber o dossiê contra a jornalista, creio que o governo federal nos deve uma explicação mais clara.

É inadmissível essa ingerência de outro país no governo brasileiro, principalmente, quando se trata de um tema tão caro a nós, como a liberdade de expressão.


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