domingo, 24 de junho de 2012

Nova logística mundial e o Vale


O Brasil teve uma urbanização acelerada nas últimas décadas. Mudamos do campo para a cidade tal qual havia ocorrido com os países mais desenvolvidos um pouco antes.
Isso decorre do aumento da produtividade da produção agropecuária: cada vez menos gente é necessária para alimentar mais pessoas. Com isso, a população urbana (que não precisa plantar para comer) se especializa na produção de outros bens e serviços, satisfazendo novas necessidades humanas no campo e nas cidades.

Essa moderna sociedade é complexa, mas permite que possamos compartilhar a produtividade dos outros. Sem entrar na longa discussão ideológica sobre como organizar a produção e a distribuição derivadas da organização racional do trabalho, o fato é que essa moderna sociedade urbana tem aumentado a produção e o consumo de bens econômicos devidos ao aumento da produtividade das pessoas.

É importante destacar que tanto o aumento da produtividade quanto a produção e distribuição de recursos, dependeram (e dependem) da evolução das comunicações e dos transportes. São José dos Campos e o Vale do Paraíba se aproveitaram bem dessa divisão racional do trabalho e de sua localização no eixo Rio-São Paulo (boa infraestrutura em comunicação e transporte). Com isso, somos hoje um dos grandes centros de produção de bens e serviços para o Brasil. Nossa produtividade, sobretudo industrial, e nossa localização fazem com que sejamos “exportadores”: produzimos mais do que consumimos.

Mas há uma nova mudança à vista e devemos nos preparar para ela. É que esse mesmo fenômeno – a divisão racional do trabalho e da evolução das comunicações e do transporte – está fazendo com que o sistema de produção e de distribuição de bens e serviços tenha escala mundial.
É como se acabássemos de migrar para as cidades e já tenhamos que nos ‘mudar’ para o mundo. Se do ponto de vista do consumo essa escala mundial barateará os produtos, do ponto de vista da produção devemos estar atentos à nossa produtividade e logística. Se nós do Vale nos beneficiamos da nossa localização no processo da urbanização brasileira, devemos nos preocupar com nova logística mundial. Acredito que para ter uma boa logística devamos ter ‘portas’ para o mercado mundial. Assim, é de extrema importância a facilidade de acesso a portos e aeroportos internacionais. Embora estejamos relativamente pertos dos portos e aeroportos de São Paulo e do Rio, devemos nos empenhar no desenvolvimento do Aeroporto de São José dos Campos e do Porto de São Sebastião.

No caso do porto, a recém-iniciada duplicação da Tamoios é um importante passo para o seu desenvolvimento. O aeroporto, que já internacionalizamos, precisa se desenvolver e se tornar importante meio de exportação para nossos principais produtos de alto valor agregado. Essas duas ‘portas’ de entrada e de saída para o mundo nos proporcionarão importante vantagem logística no mercado mundial.
Quanto à nossa produtividade, precisamos sempre aprimorá-la, uma vez que países em desenvolvimento como China e Índia, entre outros, estão se urbanizando e serão ferozes competidores de nossa indústria. Sobretudo em razão dos baixos salários e reduzidos gastos com previdência.

Embora os principais fatores para aprimoramento de nossa competitividade dependam de ações de âmbito nacional (câmbio, burocracia, juros etc..), devemos buscar constantemente melhoria da produtividade das nossas indústrias. É importante que tenhamos em mente que, se no passado éramos competitivos através de custo de fatores (mão de obra, terreno, infraestrutura), hoje essa vantagem está com outros países. Devemos aprimorar nossa vantagem competitiva e, para tanto, é fundamental ter uma estratégia baseada na inovação, não somente de alta como de média e baixa tecnologia. Essa é uma discussão que requer um importante aprofundamento e, por isso, deixarei para um outro artigo.

Para quem tem interesse no assunto, sugiro leitura do livro “A Vantagem Competitiva das Nações”, escrito por Michael Porter na década de 1980.