domingo, 11 de novembro de 2012

Reflexões sobre o PIB brasileiro


O anúncio do Ministério da Fazenda que reduziu para 2% a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro para 2012 é preocupante e merece algumas reflexões.
No início do ano, o governo chegou a trabalhar com a projeção de crescimento de 4,5%, mas reduziu-a para 3% em agosto e mais recentemente para 2%. Apesar de algumas medidas de apoio ao consumo, a economia brasileira carece de medidas estruturais. Caso contrário, teremos que nos conformar com chamados “voos de galinha”. E o pior de tudo: estamos perdendo grandes oportunidades para avançar muito mais e ano após ano desperdiçamos tempo e energia com medidas apenas paliativas.

Dois dos principais efeitos que impulsionaram a economia brasileira nos últimos anos têm perdido o seu vigor: a demanda internacional por matérias-primas provenientes do agronegócios e os minérios, bem como o crédito ao consumo. A primeira sofre os efeitos da contração do crescimento mundial, que ainda se prolongará por alguns anos. Pode não ocorrer um colapso dos preços das commodities brasileiras, mas a tendência é de que receitas de exportações e os investimentos nessa área apresentem queda nos próximos anos.

Quanto ao crédito ao consumo, as famílias brasileiras revelaram não ter mais disposição para endividamento adicional. Alguns estudos mostram que as famílias no Brasil gastam, atualmente, 30% de sua renda em juros e amortizações da dívida já assumida, proporção superior, por exemplo, à das famílias norte-americanas. Vários outros fatores já demonstram que esse estímulo do crescimento via crédito ao consumo também vai se esvaindo. Nesse contexto, não é de estranhar que a economia esteja se retraindo e que a projeção de crescimento tenha caído pela metade desde o início do ano.

Tenho reiterado em várias oportunidades que vivemos um período histórico, denominado por estudiosos de janela de oportunidades. Uma conjunção de fatores que combinam variáveis demográficas com taxas como a de natalidade e de longevidade e o final da migração da zona rural para cidades. O Brasil vive esse momento especial na economia, como outros países já experimentaram ao longo de suas histórias. Funciona em rápidas palavras assim. A taxa de dependência definida como o percentual entre “crianças e jovens entre 0 e 14 anos somada a idosos de 65 anos e mais” dividido pela “população em idade ativa: entre 15 e 64 anos”. Essa taxa define, grosso modo, quantas pessoas são sustentadas para cada 100 pessoas sustentadoras.

Em boa parte do século 20, percentual de sustentados era de 80% (em grupo de 18 pessoas, 10 sustentavam e 8 eram sustentados). Com forte queda da taxa de natalidade, temos nas primeiras décadas do século 21 redução deste número para 50% –de 15 pessoas, 5 são sustentadas e 10 sustentam.

Pode-se perceber que há um fator natural para aumento da renda per capita. Essa janela de oportunidades vai até a metade do século 21, quando teremos um aumento grande da população de idosos dependentes e, consequentemente, um aumento na taxa de dependência. Aqui, volto ao início do texto, quando disse que estamos perdendo ano após ano belas oportunidades para crescer com consistência e gerar uma “gordura” para o período das vacas magras.

Ao invés disso, registramos queda de competitividade, sobretudo nos setores de alto valor agregado. Parece-nos claro que esse modelo lulista ou petista de enxergar economia se esgotou. É necessária com urgência retomada dos investimentos governamentais para beneficiar atividade econômica no curto prazo e, no médio e no longo prazo, construir base sólida para futuras gerações.

Para isso, são essenciais mudanças na máquina governamental, com introdução de técnicas de planejamento e melhoria de sua capacidade executiva. Há possibilidades imensas nas parcerias com setor privado. Por exemplo, nos setores de hidrovias e estradas. Mas para isso se efetivar partido do governo precisa abrir mão de seus dogmas e medo de eventuais reflexos que essas iniciativas poderiam provocar nas urnas. É necessário pensar o Brasil como projeto de Nação e não como projeto de poder.