domingo, 14 de outubro de 2012

Infraestrutura e privatizações


O governo federal tem investido pouco do seu orçamento se comparado com os anos de 1970, quando o Estado era um grande investidor em infraestrutura. Na década de 1970, os investimentos chegavam a 3% do PIB, mas esse percentual caiu para menos de 1% ao longo dos anos. No governo FHC, ele era de 0,8% e no primeiro governo Lula 1 ficou em 0,7%.

No segundo governo Lula, esse número chegou a pico de 1,3% em 2010, mas em 2011 baixou para 1,2% e neste ano será bem mais baixo. O fato é que esses números são baixos e investimentos necessários em infraestrutura pública ficam prejudicados, causando sérias ‘deseconomias’ e transtornos para o Brasil e brasileiros. Felizmente, a presidente Dilma Roussef percebeu que o nível de investimentos do governo é muito baixo e resolveu enfrentar essa questão: mandou rasgar as promessas de campanha (dela e de seu antecessor) e lançou, há algumas semanas, um grande programa de privatizações na área de infraestrutura. Embora essa medida seja acertada, vem com quase 10 anos de atraso e isso prejudicou o desenvolvimento do Brasil. Quantos investimentos não foram perdidos…

Por que isso aconteceu? Por que demoraram tanto para corrigir a rota? Não creio que eles não perceberam isso logo nos primeiros anos do governo. Afinal, o ex-ministro Palocci não é ingênuo com números e ouvia ex-membros do governo FHC. O primeiro problema é que Lula ganhou as eleições satanizando as privatizações de Fernando Henrique e ficaria politicamente difícil reconhecer o erro de imediato.

O segundo problema é de ordem interna: como convencer os companheiros de viagem que o destino estava errado?
Há mais de 20 anos, quando ainda tinha ilusões socialistas, li um interessante livro do escritor Edmund Wilson chamado Rumo à Estação Finlândia. Esse livro descreve a trajetória do socialismo desde a Revolução Francesa, passando por Saint Simon, Marx, Engels e outros marxistas até chegar a Lenin. A estação Finlândia, em São Petersburgo, é o lugar aonde, em abril de 1917, chegou à Rússia para liderar o início da Revolução Socialista Soviética. Não acredito que o ex-presidente Lula e seus companheiros de viagem tinham, em 2002, alguma pretensão radical como a de Lenin. Porém, algum Socialismo a Definir estava em meta e era para lá que esses companheiros de viagem esperavam ir.

Ao longo do governo, vários companheiros e tendências perceberam que esse trem não ia para um Socialismo a Definir e desceram do trem. Porém, boa parte dos companheiros ainda acredita nisso. O problema interno é esse: como convencer os tripulantes e passageiros de que o trem não vai mais rumo à Estação Finlândia, mas sim rumo à Estação Grand Central em Nova York. Ou seja, são necessárias privatizações, contenção de gasto público, estabilidade da moeda, flutuação do câmbio, aumento da produtividade e da competitividade etc. Isso demanda grande correção de rota que acarreta perda de tempo e de desenvolvimento.

No Congresso Nacional, vejo que os mais lúcidos (que sabem ser necessária a correção de rota) procuram se esforçar para corrigir a rota. Vejo outros que, demagogicamente passando o ponto de não retorno, fazem o discurso de que o trem realmente vai para a Estação Finlândia.

Mas vejo muitos com discursos inflamados e, portanto, sinceros, acerca das privatizações (eles ainda não acreditam no que já se disse que a concessão é uma privatização que não saiu do armário), sobre a política de petróleo e gás do antigo presidente da Petrobras (que foi exonerado quando a presidente Dilma percebeu que essa política estava errada), sobre o aumento das exportações (na verdade, devido às commoditties, já que o Brasil está se desindustrializando) e sobre a política externa ‘independente’ (sic). Na verdade, faz-se política externa dita de esquerda para compensar a política econômica ortodoxa e não parecer que se é de direita.

Vendo tudo isso, fico com meus botões a pensar: é duro esperar essa turma atravessar longo século 19. Vou tentar ajudar a ser rápido. É o papel de um parlamentar da oposição.